domingo, 7 de agosto de 2011

Espaço

Eu nunca estive no peso em que estou. E o problema todo nem é o peso. É o espaço. A circunferência, o tamanho, a largura. O quanto ocupo num lugar qualquer. E que na verdade ocupo buscando um espaço: o meu. Tudo é mais difícil. Andar, me esticar, fazer sexo, respirar... Tudo fica cada dia mais complicado, como se eu mesma me comprimisse dentro de mim. Paradoxalmente, quanto mais me comprimo dessa maneira, mais espaço eu queria ter do lado de fora. E assim vou inchando, inchando, inchando... Fico me perguntando se eu como tanto assim, se ingiro tanta caloria quanto as outras pessoas... Tem tanta gente que come mais do que eu, bebe mais do que eu e tá aí, lindo, circulando quase que numa dança pelo mundo, atleta, esguio, bailarino, quase flutuando pela vida afora. E eu aqui, arrastando todo esse peso. Sem digerir o que me acontece, me apertando em roupas, sutiãs, sapatos, me enchendo de bolhas e calos, de flancos, culotes, bainhas nas costas e onde mais houver espaço para que elas apareçam. Sinto dores nos joelhos, tenho um alongamento pífio, elasticidade zero, disposição inexistente. E o mais engraçado de tudo isso é que essa porra me causa algum prazer. Me sinto um elefante, um mastodonte me esgueirando preguiçosamente pela vida. Uma criatura enorme e cheia de nada, lenta, vagarosa, pesarosa. Repleta de peso morto, de vida passada, de fato consumado, mas que eu me orgulho em carregar como um coronel aposentado com suas medalhas. Eu me movo pela vida como quem corre em câmera lenta do destino. E de uma certa forma esse movimentar me causa um deleite doentio e mórbido, do qual eu quero me livrar mas que me consome viciadamente. O acúmulo faz parte de mim. É como se eu quisesse levar comigo o mundo todo através do que eu vi, senti, bebi, comi, fumei e fodi. É como se esse peso todo fosse o mundo em mim. Mas eu não preciso do mundo em mim. Ele precisa estar onde está, nele mesmo, no tempo em que ele existe: o agora. E eu preciso carregar em mim só a mim mesma, mudando, a cada momento, esguia, bailarina, faceira, uma pluma que flutua por onde o vento a carregar. Tenho só que descobrir onde fica o zíper que libera essa carcaça.

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