quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sobre o tempo...

Eu queria saber escrever bonito, mas não sei. Eu queria continuar a falar de nós dois, mas não posso. É fuga. É noite, é lembrança e poeira... E tudo isso já não é mais. Já já não é mais. Enquanto eu escrevo aqui, há quem durma;  todos dormem, menos eu. Sempre em estado de alerta, como se o amanhã fosse sempre ontem e como se o ontem nunca passasse. E pra mim não passa mesmo. Vivo engalfinhada no ontem, como se fosse sempre uma luta. Uma luta. Uma luta pra não esquecer o que fui e pra não perceber o que sou, o que é agora. O agora... Esse mesmo, que agora já passou. E agora. E agora também. Já passou. Acho que é por isso que vivo nessa guerra com o passado. Tudo é passado. O agora? Já passou. O daqui a pouco? Já já é agora, olha. Já foi. E já foi outra vez. E a distância só aumenta. Toda a distância. O pai, já não sei quando foi que falei. A mãe agora está só. Assim como a irmã. E como eu mesma. Todos estão sós, será que não percebem? Acho que é por isso que fico tanto tempo acordada à noite. É o medo de o tempo passar e eu não ver. O dia de nada me importa. Nunca me importou muito, apesar de invejá-lo e de invejar quem com ele se importa. Talvez eu me importe e não saiba. Talvez por isso eu não durma, querendo esperar o dia e ele não vem. Quando vem, já foi. As unhas estão azuis (e eu nem gosto...ava? de azul), o copo está cheio d'água. E aquela água nunca é suficiente. O cheio do copo nunca me preenche. A coluna dói como se fosse desmontar. Eu nunca tive dor na coluna assim. Eu nunca tive uma dor de verdade. Tive? E nem quero, mas agora elas todas resolveram aparecer. É a idade, dizem. É o peso do tempo. De todo o tempo que eu tento carregar para que não me escorra pelos dedos...