quinta-feira, 24 de abril de 2014

O meu maior sonho era poder acordar outra pessoa. Outra pessoa mas eu mesma, entende? Motivada, disciplinada, otimista, obstinada. Cheia de metas e objetivos, direcionada para cumpri-las e atingi-las. Mas não. Eu hoje acordo e durmo sem rumo e sem metas. Essas últimas eu até as tenho mas nada faz com que eu as consiga cumprir. Não entendo o que acontece comigo. É como se eu não quisesse viver ou crescer, mas como isso foge ao meu controle, cresço e vivo involuntariamente. Onde está a pessoa que eu sonhei ser? O que eu faço para encontrá-la e para que ela se apodere de mim? Eu não sei. Não sei onde fui parar. Não me reconheço nesse corpo, nessa vida, nesse mundo. Só sei que não me acho e vivo nesse esconde-esconde maluco comigo mesma. Só que agora eu cansei de brincar.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Sobre o verde, o podre, o maduro e os buracos

Tô amargando um bom pedaço. Um caminho sem atalhos, só que repleto de sinais verdes e ruas sem saída. Encurralada. É assim que a analista disse que eu estou. Não tenho pra onde ir a não ser pra frente. E andar pra frente é complicado... Principalmente quando você sabe que só cabe a você mesma sair dali e seguir adiante. Adiante. Essa palavra é estranha ao meu vocabulário. Sempre atrasada, sempre olhando pra trás, sempre arrastando o passado e nunca olhando adiante. São 31. Eu não tenho mais como voltar. É como se eu tivesse passado do verde ao podre, direto, sem passar pelo maduro. Verde por muito tempo; podre antes do tempo. Ou será isso o maduro, essa encruzilhada do cacete, essa sensação dos pés fincados na terra e cheios de raízes que não se sabe como foram ali parar, os frutos crescendo como cânceres, sem o menor controle, sem a minha autorização, estourando um a um e me proporcionando essa sensação de impotência que não para de me perturbar? "Preencha todos os meus buracos". Joe sendo eu através da ficção. A arte de uma vida inteira procurando preencher todos os meus buracos, que com as tentativas só erodiram ainda mais e me causaram um rombo imenso na alma. E um sentimento que me persegue e desassossega, gritando por entre as muitas mordaças que eu insisto em lhe colocar: VIVE... VIVE... corre... "Hurry up, we are dreaming"... QUE O SONHO UMA HORA ACABA.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Nota mental

Eu acho que eu só vou conseguir ser feliz o dia que eu parar de querer viver a vida dos outros e procurar viver a minha vida. Eu não posso ser a promoter de festas alternativas em Belo Horizonte. Eu não posso ser a pseudo-lésbica cultzinha e descolada que deu um fora no cara que eu mais amei na minha vida. Eu não estou indo fazer um curso de inglês em Boston ou no Canadá. Eu não sou fotógrafa, eu não sou designer, eu não sou popular, eu não sou culta de verdade, eu não sou moderna, eu não sou magra, eu não sou esperta, eu não sou racional, eu não sou organizada, eu não sou equilibrada, eu não sou espiritualizada, eu não sou forte o suficiente, eu não estou legal e eu estou cansada dessa porra toda. Um dia eu vou acordar e vou viver a minha vida de verdade. E eu espero ansiosamente que esse dia seja amanhã.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sobre o tempo...

Eu queria saber escrever bonito, mas não sei. Eu queria continuar a falar de nós dois, mas não posso. É fuga. É noite, é lembrança e poeira... E tudo isso já não é mais. Já já não é mais. Enquanto eu escrevo aqui, há quem durma;  todos dormem, menos eu. Sempre em estado de alerta, como se o amanhã fosse sempre ontem e como se o ontem nunca passasse. E pra mim não passa mesmo. Vivo engalfinhada no ontem, como se fosse sempre uma luta. Uma luta. Uma luta pra não esquecer o que fui e pra não perceber o que sou, o que é agora. O agora... Esse mesmo, que agora já passou. E agora. E agora também. Já passou. Acho que é por isso que vivo nessa guerra com o passado. Tudo é passado. O agora? Já passou. O daqui a pouco? Já já é agora, olha. Já foi. E já foi outra vez. E a distância só aumenta. Toda a distância. O pai, já não sei quando foi que falei. A mãe agora está só. Assim como a irmã. E como eu mesma. Todos estão sós, será que não percebem? Acho que é por isso que fico tanto tempo acordada à noite. É o medo de o tempo passar e eu não ver. O dia de nada me importa. Nunca me importou muito, apesar de invejá-lo e de invejar quem com ele se importa. Talvez eu me importe e não saiba. Talvez por isso eu não durma, querendo esperar o dia e ele não vem. Quando vem, já foi. As unhas estão azuis (e eu nem gosto...ava? de azul), o copo está cheio d'água. E aquela água nunca é suficiente. O cheio do copo nunca me preenche. A coluna dói como se fosse desmontar. Eu nunca tive dor na coluna assim. Eu nunca tive uma dor de verdade. Tive? E nem quero, mas agora elas todas resolveram aparecer. É a idade, dizem. É o peso do tempo. De todo o tempo que eu tento carregar para que não me escorra pelos dedos...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Relendo anotações antigas e revendo fotos procuro mensurar o que foi que me atingiu pois parece, foi grande. Acho que na verdade foi uma sucessão de pancadas que a vida foi me dando e que me fez, como li outro dia em um livro magnífico, "cair para dentro mim". Caí, despenquei, fugi, chamem do que quiser, mas foi um tombo e tanto e que, até agora, estou procurando me escorar às paredes, ainda zonza, tentando me levantar. Fui me encobrindo de camadas e camadas de gordura na ausência de abraços, engolindo mais do que bastante comida, que me satisfazia como a uma criança mimada, bebendo litros de álcool e fumando todos os cigarros na tentativa adolescente de enfrentar o assustador mundo adulto. Mudança, casamento, filhos que vinham e não vieram, grandes amores idealizados e sonhados, mas vividos às escondidas, sorrateiramente entre um medo e outro, furtivos tais masturbações juvenis interrompidas pela vida real. Um pai que se vai. Uma mãe que fica, triste. Só. Uma irmã menor a implorar silenciosamente por carinho e cuidados, a se agarrar desesperadamente a um fiapo de amor para não se esvair em insegurança, medo e dor. Amigos que se foram, essa falta de justeza no mundo... Pra isso, ao invés de secar, eu inchei. Inflei como um balão de gás, para ficar enorme tal qual um elefante, uma baleia, algo assombrosamente maior do que o entorno. Onde coubesse tudo isso e mais, e mais. Mas balão que ao invés de subir, leve, desceu, quase foi terra a dentro como um avestruz a por a cabeça num buraco. Quase que o avestruz inteiro a entrar pelo buraco. Balão invertido, convertido em peso, âncora imensa a descer e a descer e a descer... Caindo por mim a dentro. E mesmo agora narrando todos esses pormenores, elencando cada motivo que me dei para que isso ocorresse, creio que não consigo perceber o quão grave foi tudo. O quão íngreme me inclinei morro abaixo. E hoje, já em marcha invertida, nem quão longa é a subida.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sabe o que acontece... É que a vida é assim. Ela deixa a gente desse jeito. Amargo, seco, sem sonho, pé no chão, raízes fincadas na terra. Raízes podres, por assim dizer. Mas é o que ocorre. O sonho vem, quando se é novo, brota, floresce... mas algumas flores - a maioria, por sinal - não vira fruto. Morre antes. E a vida vira assim um cemitério de sonhos em flor, mortos antes do tempo. Por isso vivemos todos meio que em luto. Cheios de um jardim de flores murchas com poucos frutos. Mas em meio a tudo isso... Há o amor. Que passa por fases, claro. Muitas. Mas há ele, o amor. E quando ele está em você, por mais que você não queira, as flores permanecem, algumas, vivas. Outras poucas chegam até a dar frutos, uns míseros, mas bons, eternos. Perenes. Mesmo contra a sua vontade, mesmo com todos os tiros no pé e com toda a dificuldade do aceitar, você vai ser feliz. Você VAI. É uma profecia. É uma ordem, praticamente. VOCÊ VAI. E agora eu vou. Tenho sido. Mesmo com todo o resto. Mesmo eu me apegando às podres raízes que construí ao longo desses últimos seis anos, pelo menos. Apesar de tudo, eu SOU. E é tão bom ser, às vezes... Porque o mundo está acabando, mas você ainda sim, É. Como se fosse uma espécie de blindagem, só que permeável. As coisas vem, batem, ultrapassam, atingem... mas menos. E ultimamente eu ando assim. Blindada e carregando algumas flores nos meus cabelos vermelhos...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"I just wanna be a woman..."

Cansada de brincar.
Cansada dos mesmos risos falsos
das mesmas mesas de bar
dos mesmos...
mesmo.

Metáforas e clichês que me acompanham
desde sempre
preenchem um espaço em mim de algo que
não sei nomear.

"I just wanna be
a woman."
A woman.
A... woman.

Eu só queria aceitar minha condição
de ser mulher
de ser alguém
com uma buceta entre as pernas,
um coração na boca
e nas mãos.