sexta-feira, 11 de maio de 2012

Relendo anotações antigas e revendo fotos procuro mensurar o que foi que me atingiu pois parece, foi grande. Acho que na verdade foi uma sucessão de pancadas que a vida foi me dando e que me fez, como li outro dia em um livro magnífico, "cair para dentro mim". Caí, despenquei, fugi, chamem do que quiser, mas foi um tombo e tanto e que, até agora, estou procurando me escorar às paredes, ainda zonza, tentando me levantar. Fui me encobrindo de camadas e camadas de gordura na ausência de abraços, engolindo mais do que bastante comida, que me satisfazia como a uma criança mimada, bebendo litros de álcool e fumando todos os cigarros na tentativa adolescente de enfrentar o assustador mundo adulto. Mudança, casamento, filhos que vinham e não vieram, grandes amores idealizados e sonhados, mas vividos às escondidas, sorrateiramente entre um medo e outro, furtivos tais masturbações juvenis interrompidas pela vida real. Um pai que se vai. Uma mãe que fica, triste. Só. Uma irmã menor a implorar silenciosamente por carinho e cuidados, a se agarrar desesperadamente a um fiapo de amor para não se esvair em insegurança, medo e dor. Amigos que se foram, essa falta de justeza no mundo... Pra isso, ao invés de secar, eu inchei. Inflei como um balão de gás, para ficar enorme tal qual um elefante, uma baleia, algo assombrosamente maior do que o entorno. Onde coubesse tudo isso e mais, e mais. Mas balão que ao invés de subir, leve, desceu, quase foi terra a dentro como um avestruz a por a cabeça num buraco. Quase que o avestruz inteiro a entrar pelo buraco. Balão invertido, convertido em peso, âncora imensa a descer e a descer e a descer... Caindo por mim a dentro. E mesmo agora narrando todos esses pormenores, elencando cada motivo que me dei para que isso ocorresse, creio que não consigo perceber o quão grave foi tudo. O quão íngreme me inclinei morro abaixo. E hoje, já em marcha invertida, nem quão longa é a subida.

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